ATA DA VIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 21.10.1997.
Aos vinte e um dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e
noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e cinqüenta minutos, constatada a
existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de
Cidadã Emérita de Porto Alegre à Senhora Ieda Maria Vargas Athanásio, nos
termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 07/97 (Processo nº 632/97), de
autoria do Vereador Elói Guimarães. Compuseram a Mesa: o Vereador Clovis
Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Rogério
Santana, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor
José Elias Flores, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto
Alegre; a Senhora Ieda Maria Vargas Athanásio, Homenageada; o Senhor José
Carlos Athanásio, esposo da Homenageda; o Vereador Elói Guimarães, proponente
da Sessão e, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da
Mesa, foram registradas as presenças dos Senhores José e Aida Vargas, pais da
Homenageada; dos Senhores Rafael e Fernanda Athanásio, filhos da Homenageada;
dos Senhores Ezequiel Antunes Morais e Daniela Athanásio, respectivamente,
genro e nora da Homenageada. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a
todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu a
palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Elói Guimarães,
em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PPS e PSB, teceu comentários acerca da
importância do papel representado pela Senhora Ieda Maria Vargas Athanásio ao
ser escolhida Miss Universo, declarando ter sido ela embaixadora do Brasil no
exterior, mostrando para o mundo "não apenas a beleza da mulher gaúcha,
mas a cultura, a geografia e os nossos costumes". O Vereador Adeli Sell,
em nome da Bancada do PT, analisou o significado do conceito de beleza,
agradecendo à Homenageada pela forma como soube divulgar e como continua
divulgando, no mundo inteiro, o nome de Porto Alegre, do povo gaúcho e de toda
a sociedade brasileira. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB,
relembrou a entrega da chave da Cidade à Senhora Ieda Maria Vargas Athanásio,
quando Sua Senhoria regressava a Porto Alegre após ter recebido o título de
Miss Universo, desejando-lhe que encontre em sua vida os momentos felizes
necessários para viabilizar a continuidade da atuação positiva que vem
realizando até o momento. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome das Bancadas do
PSDB e PTB, teceu considerações acerca da forma como os critérios de beleza
foram sendo moldados ao longo dos tempos, em especial no referente à beleza
feminina, salientando o prestígio alcançado pela Senhora Ieda Ma
O SR.
PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Boa noite a todos! É com muita honra e com muito
prazer que estamos iniciando a 25a Sessão Solene da 1ª Sessão
Legislativa Ordinária da XII Legislatura.
Esta Sessão é destinada à
entrega do título honorífico de Cidadã Emérita de Porto Alegre à Sra. Ieda
Maria Vargas Athanásio, nos termos do Projeto de Lei nº 07/97, Proc. nº 632/97,
de autoria do Ver. Elói Guimarães.
Além da homenageada, compõem
a Mesa seu esposo, Sr. José Carlos Athanásio; o representante do Sr. Prefeito,
Sr. Rogério Santana; o Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto
Alegre, Sr. José Elias Flores.
Veja, Sra. Ieda, que temos o
Presidente do Conselho já prestigiando este ato. O Conselho já a está
convidando para compô-lo.
Consideramos como extensão
da Mesa os pais da homenageada, Sr. José Vargas e Sra. Aida Vargas; os filhos,
Rafael Athanásio e Fernanda Athanásio; o genro Ezequiel e a nora Daniela; os
amigos e convidados que estão hoje conosco.
Convidamos a todos para
ouvirmos a execução do Hino Nacional.
(É executado o Hino
Nacional.)
O Ver. Elói Guimarães falará
em nome da Bancada do PDT, que é a sua Bancada, mas também pelas Bancadas do
PMDB, do PPS e do PSB.
O SR. ELÓI
GUIMARÃES: Sr.
Presidente, nossa sempre miss Ieda Maria Vargas Athanásio; demais integrantes
da Mesa. Presentes, também, José Carlos Athanásio, esposo da homenageada; os
filhos, Rafael e Fernanda; o genro e a nora, Ezequiel e Daniela; a irmã Aida;
os pais, Sr. José e Sra. Aida Vargas; minha esposa, a Vani; pessoas amigas;
Vereadores e funcionários; tantas pessoas amigas, presentes a este ato importante,
porque vai ser feita a entrega do título de Cidadã Emérita da Cidade de Porto
Alegre a Ieda Maria Vargas.
Há muito a Cidade, o
Município de Porto Alegre devia esta homenagem a uma pessoa que desempenhou um
papel da maior relevância à Cidade, ao Estado do Rio Grande do Sul, ao nosso
País, porque num dos certames mais acirrados a nossa homenageada Ieda Maria
Vargas foi escolhida como Miss Universo.
Alguns, quando propomos o
título, nos indagavam deste pleito, desta homenagem. É verdade: uma homenagem à
beleza, mas a beleza é apenas um instrumento, porque, mais do que a beleza
física, material, espiritual e humana da Ieda, ela desempenhou o papel de
embaixadora do nosso País no exterior. E eu fico a me indagar o que representou
o cetro de Miss Universo do ponto de vista da publicidade, do conhecimento que
ela fez do nosso País. Ela levou para o mundo a beleza da mulher
porto-alegrense, da mulher gaúcha e da mulher brasileira, mas também levou a
cultura, a geografia e os nossos costumes numa época onde os meios de
comunicação não tinham a abrangência dos dias de hoje. E outro dia dizia, Ieda
Maria Vargas Athanásio, que seria bom se pudéssemos voltar ao tempo e
reconstituir aquele momento em que ela fez esta verdadeira saga de conquistas
de títulos importantes, em 1962 e 1963 e depois em 1964, para que pudéssemos
mostrar em um grande painel a importância da pessoa que estamos homenageando.
Os tempos passaram, e já
decorrem 34 anos que Ieda Maria Vargas foi escolhida Miss Universo, mas o seu
papel de embaixadora, prezado pai e prezada mãe da Ieda Maria Vargas, é, na
minha opinião, o que lhe confere o melhor galardão, levando para o exterior a
nossa inteligência, sabedoria e beleza. Todo aquele noticiário que se produziu
naqueles anos de Miss Brasil e Miss Universo fez com que durante muito tempo,
lá no exterior, Porto Alegre tivesse o cetro da beleza da mulher brasileira e
da mulher universal. Porque até então a nossa Capital era Buenos Aires. Foi
através de toda esta atuação da Ieda Vargas que o País se fez bem conhecido no
exterior, porque se produziu um noticiário imenso. As grandes revistas
mundiais, dos mais diferentes países, publicavam a opinião da Miss e os seus
trajes.
Vejam os Senhores e as
Senhoras que o traje gaúcho, o xiripá, a nossa indumentária, ficou conhecido
mundialmente porque, me dizia Ieda Vargas, num concurso de trajes ela bateu o
pé - porque até então as misses desfilavam vestidas de baianas - e disse: “Não,
eu sou gaúcha, sou de Porto Alegre e, como tal, nos trajes típicos vou desfilar
com xiripá e boleadeira”. Então, percorreu o mundo todo essa foto. E ela seguiu
adiante. Durante mais de um ano morou no exterior, nos Estados Unidos. Era
convidada a participar dos mais diferentes atos, tais como a inauguração de
agências do Banco do Brasil, hasteando a Bandeira Nacional.
Então, para ela esta
homenagem, este reconhecimento importante para nós, porque quem está
agradecendo é a Cidade, porque é exatamente a Câmara Municipal de Porto Alegre
que detém mais a representatividade dela. Aqui estão representantes de todos os
matizes ideológicos. Então, é o povo que presta esta homenagem a Ieda Maria
Vargas Athanásio.
Eu dizia, num programa de
televisão, outro dia, que ela pisou todos os tapetes, viveu as grandes emoções
e, me parece, só numa oportunidade correram as lágrimas - não que ela não
vibrasse com todos aqueles acontecimentos, onde era o centro. Eu imagino uma
moça, aos 18 anos, numa decisão final de Miss Universo, naquele tempo. Porque
os concursos de beleza eram competições; eles tinham as características de
verdadeira Copa do Mundo. Eram países que apresentavam as suas candidatas e se
fazia uma grande disputa, não só no terreno da beleza, porque nós entendemos
que a beleza é a material, é a beleza de alma, a beleza de espírito, que ela
possui. Ontem, no programa da Marley Soares, ela chamava a atenção para a voz
da Ieda, que é outro atributo, um dom de Deus que ela recebeu. Ela tem uma voz
belíssima!
Então, esta homenagem que
esta Cidade, o seu povo presta a Ieda Maria Vargas é por demais justa e há
muito ressente-se em prestá-la. E nós estamos hoje aqui reunidos com os amigos,
com a família, conferindo esta homenagem através do reconhecimento que a Cidade
lhe deve, que o País lhe deve. E vejam que personalidade a sua! É um destaque
que é preciso fazer! Ela foi convidada para ser atriz, estrela de cinema
nacional e internacional. Em Hollywood, foi convidada para trabalhar em novela.
Recebeu tantos e tantos convites, mas ela fez uma opção: ser mãe, esposa e esta
pessoa que a Cidade, o País e o mundo conhece; ser uma pessoa como é,
tranqüila, que nunca se deixou envolver por qualquer sentimento outro senão
aquele do destino que o Senhor lhe deu, de ser uma pessoa extremamente gentil.
Hoje, quando ela passava, as pessoas ali me diziam que ela continua bonita,
alegre, simpática, sorridente, com essa vibração de alma, de espírito. Imagino,
Bel. José Athanásio: devia ser difícil ser namorado de uma miss.
Esta homenagem a Ieda Maria
Vargas faz-se pelo que ela representou, por ter levado para outros países a
beleza da nossa gente, a beleza da mulher brasileira, da mulher gaúcha, da
mulher porto-alegrense.
O nosso tempo é limitado.
Temos que cumprir o Regimento. Tive a oportunidade de ser o proponente,
juntamente com 32 Vereadores, de conceder esse título, um título a mais nessa
galeria imensa de galardões que possui a nossa Miss Ieda Maria Vargas. Quero
cumprimentar a sua mãe, o seu pai, porque eu e outras pessoas mais velhas que
estão aqui lembramos das fotos onde a sua mãe sempre a esteve assessorando,
viajando junto. Ieda sempre esteve respaldada pela sua família. Isso também,
além dos seus atributos intelectuais, como pessoais, todo esse conjunto de
pessoas, familiares e amigos que estão aqui, e também o Brasil, o Estado e a
Cidade, tudo isso contribuiu para que, por exemplo, quando você chegou aqui em
Porto Alegre e em São Paulo, fizessem ponto facultativo. Imaginem o que isso
representa para uma pessoa: chegar em Porto Alegre e desfilar em um carro de
bombeiros, com as multidões nas ruas; ser homenageada em Lima, no Peru e tantos
outros lugares. E você passando por tudo isso, por tantas emoções e mais
emoções! Hoje, aqui, recebe uma pequena emoção, porque ela vem de seus
conterrâneos de Porto Alegre.
Fica aqui a nossa
manifestação de agradecimento. A Cidade está agradecendo. Estamos aqui na
Câmara, em nome da Cidade, agradecendo pelo muito que fez a esta Cidade, ao
Estado do Rio Grande do Sul e ao Brasil, porque o trabalho desempenhado lá
fora, levando a nossa cultura, o nosso idioma, levando o nosso modo de ser, os
nossos trajes, todo esse complexo que somos, muito ajudou o nosso País. Receba,
portanto, a nossa homenagem, a nossa saudação, o nosso muito obrigado.
Queremos pedir a Deus que a
proteja, projeta a sua família, seus filhos, os seus pais, seus parentes, os
seus amigos. Muito obrigado por tudo! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
Com a palavra, o Ver. Adeli Sell, pelo PT.
O SR. ADELI
SELL: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)
Coube a mim, em nome da Bancada do PT, fazer esta saudação.
Permita-me, Ieda, chamá-la
de você. Não recordo exatamente como, mas creio que foi pelas ondas de alguma
rádio de Porto Alegre que lá, em uma distante cidadezinha do oeste de Santa
Catarina, este Vereador ouviu pela primeira vez o seu nome e as homenagens que
lhe prestava, na época, o povo desta Cidade pelos seus títulos. Creio que foi
também pela sempre importante e lembrada revista O Cruzeiro que devo ter visto,
pela primeira vez, a sua figura.
Lembro, hoje, de um verso de
um poeta inglês que escreveu: “A beleza é a verdade, a verdade é a beleza!”. É
dessa maneira que eu encaro a sua beleza e a beleza que tenho como algo
importante ao homenagear e a respeitar. A beleza que nós buscamos, a beleza que
nós homenageamos é aquela que para nós representa a verdade, a transparência, o
verdadeiro ser e, nesse sentido, você é, você foi uma representante da beleza
da mulher gaúcha, da nossa Cidade, da bela Porto Alegre. No mundo inteiro você
levou o nome da Cidade, do Rio Grande, do Brasil, que é belo, mas,
infelizmente, suas belezas nem sempre são conhecidas por nós mesmos. Esta bela
e generosa Porto Alegre muitas vezes não é conhecida por quem aqui nasceu, mas
creio que você a conhece, porque sabe que a beleza é verdade e a verdade é que
Porto Alegre é bela.
Se, no passado, você
representou muito bem a mulher, o nosso Estado, a nossa Cidade, hoje, ao lhe
darmos o título de Cidadã Emérita, apenas lhe pedimos que continue a
representar e a divulgar a beleza da nossa Cidade, da nossa cultura, da nossa
tradição. Essa verdade podemos oferecer ao nosso Estado e a outras cidades.
Você pode colocar Porto Alegre cada vez mais no cenário do Mercosul e do mundo,
porque Porto Alegre sempre recebeu bem os de fora, como você bem nos
representou em todos momentos.
É justa a homenagem. A
beleza é verdade e a verdade é beleza. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. João Dib está com a palavra pelo PPB.
O SR. JOÃO
DIB: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)
Lembro-me bem do dia em que ouvi que Ieda Maria era Miss Universo. Pensei que
ela não é bonita, é linda. Linda é muito mais do que bonita. Linda é bonita com
beleza interior. Fico feliz porque não me equivoquei. Essa beleza interior
permanece e a faz ser linda. Isso é muito bom.
Também lembro que a escolha
dela para Miss Universo me deu um problema. O maior Prefeito desta Cidade, José
Loureiro da Silva, me chamou e disse: “A nossa Miss Universo vai chegar e é
preciso que lhe seja dada a chave da Cidade”. Descobrimos que Porto Alegre não
tinha chave e precisamos providenciar; e providenciamos uma chave. Quando ela
descia os degraus da escada do avião, o Prefeito Loureiro da Silva lhe
entregava a chave de Porto Alegre. Isso foi muito importante, porque a
menina-moça realmente era linda e, naquele momento, ela se sentiu um pouco dona
de Porto Alegre.
Deve ter pesado nos ombros
essa responsabilidade de ser dona de Porto Alegre. Era o Prefeito, o maior que
esta Cidade já teve, dizendo que ali estava a chave da Cidade que era dela, da
Cidade que é sua, da Cidade que nasceste, da Cidade que vais promover. E ela
sempre soube fazer isso. Ela continua linda. Claro que o Athanásio e os filhos
têm culpa por fazer com que ela continue linda, porque ninguém fica lindo
sozinho. Naquele dia, era o Prefeito Loureiro da Silva, era a Cidade de Porto
Alegre, mas hoje o seu plenário, a sua audiência é outra. É muito melhor. São
aquelas pessoas que estão no seu coração. E a Ieda continua linda.
Eu quero dizer, Ieda, que a
felicidade é uma coisa que não existe, e muitas pessoas se preocupam correndo
atrás da felicidade e descobrem que ela não existe. Agora, não existe, também,
infelicidade. O que na realidade existe são momentos, momentos felizes e
momentos menos felizes. Os momentos felizes são em muito menor número do que os
outros, mas nos dão uma força extraordinária para vencer aqueles que não são
tão felizes.
Hoje, a Cidade de Porto
Alegre, a Cidade em que nasceste, está te dizendo que és uma Cidadã Emérita.
Emérito é algo extraordinário, é insigne; é algo que está acima de todas as
outras coisas. É porque tu estás vivendo um momento feliz. Este momento feliz
te torna, de novo, linda, e é por isso que eu quero que seja creditado na conta
de poupança da tua vida para que tu continues sendo, por muito tempo, alegre,
feliz e linda, fazendo com que esta Cidade se sinta contente por ter uma
família tão boa, tão bonita, tão linda. Saúde e paz. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra pela sua Bancada, o PSDB, e pelo PTB.
O SR. CLÁUDIO
SEBENELO: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa.) Desde os primórdios da civilização greco-romana, o ser
humano vem desenvolvendo seu senso estético, seu juízo de valor às formas e ao
conteúdo de pessoas, coisas e animais. De tal modo, passou a separar o bom do
mal, o feio do bonito, o novo do arcaico. Para tanto desenvolveu, ao extremo,
sua percepção e conceitos do belo e da Arte. O belo é a Arte. A Arte é o belo.
Podemos, assim, transportar a análise estética dos objetos para o ser humano, o
que vem sendo feito desde então, seja na escultura grega, seja no
antropocentrismo renascentista, quando a figura humana passa a se sobrepor às
da natureza, até nossos dias.
Do estudo comparativo das
formas de beleza da espécie “hominis”, desde a beleza grega até o comportamento
competitivo, que socialmente avalia qual a mais bela, uma espécie de
constatação eugênica, foram desenvolvidos critérios, estudos, medidas externas
e valor intrínseco de pessoas, de aperfeiçoamento de seus caracteres ou de
valores culturais, de conhecimentos, de situações especiais vividas que os
destaquem acima do comum. Isso se fez até o nosso século e, especialmente,
acentuou-se nas décadas de 60 e 70. A admiração pela feminilidade, associada
aos conceitos de encantos da mulher, fez com que os concursos de beleza se
disseminassem, tomando conta da mídia e do imaginário popular, passando a fazer
parte de nossos costumes. O carisma da mulher gaúcha ganhou notoriedade
internacional, atingindo o máximo de prestígio quando uma porto-alegrense,
gaúcha, brasileira, Ieda Maria Vargas, nossa homenageada de hoje, repetia
Yolanda Pereira (Pelotas), resgatava Maria José Cardoso, Marta Rocha, na Bahia,
Adalgisa Colombo, Terezinha Morango, do Pará. Ieda chegou lá. A mais bela
mulher do Universo. Beleza que representa a saga das mulheres do pampa e que me
lembra Ana Terra, de Érico Veríssimo.
Ieda integrava em plástica e
expressividade um conjunto harmônico e sua peculiar forma de apresentar-se
publicamente. Comunicava-se com desenvoltura e com uma voz de timbre especial,
o que a levou, posteriormente, a profissionalizar-se como apresentadora de
programas de televisão. Entrava em nossos lares, diariamente, sua figura
inconfundível. Até hoje, mantém os atributos que a levaram a conquistar o
título maior, e todos a chamam de nossa Miss Universo. À sua beleza física
adicionou a elegância da maturidade e o charme da experiência vital. Não
renegou jamais suas raízes. Aqui permaneceu, constituindo sua família com José
Carlos, e quem conhecer Rafael e Fernanda sabe perfeitamente justificar a
admiração com que me refiro aos Athanásio.
Tudo isso faz parte de um
patrimônio sedimentado, não só por sua beleza externa, visível. Falamos de uma
outra, origem da primeira, a riqueza interna, a dignidade com a qual nós,
porto-alegrenses, estamos acostumados a conviver. Ela faz com que sua passagem
torne nossas ruas (as ruas de Mário Quintana) mais bonitas e seus amigos
usufruam de sua trajetória fértil e de seu convívio agradável por seu senso de
humor e visão de mundo.
Porto Alegre estava a
dever-lhe este título, que agora resgatamos: Cidadã Emérita de Porto Alegre.
Hoje, na sensibilidade e iniciativa do nobre Ver. Elói Guimarães, apenas
materializamos o desejo de todos os seus concidadãos - um agradecimento que a
Cidade, pelo muito que fez por Porto Alegre, pelos gaúchos e pelo Brasil, tanto
que foi divulgado.
Porto Alegre quer homenagear
aquela que é, foi e sempre será uma linda mulher! Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra pelo PFL.
O SR. REGINALDO PUJOL:
Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Honestamente me sinto privilegiado e confortado. Ocorre que os
oradores que me antecederam - desde o brilhante pronunciamento do Vereador
proponente, autor deste Projeto de Lei que resultou nesta homenagem, meu
estimado amigo Elói Guimarães, até a passagem deste importado catarinense Adeli
Sell, do nosso ex-Prefeito João Dib e do nosso lírico Cláudio Sebenelo -
demonstram que sou um privilegiado de participar de uma Câmara de Vereadores
repleta de valores que, na sua pluralidade, demonstram e simbolizam com extrema
proficiência a cultura desta Cidade, suas características e, sobretudo, os seus
valores.
De outro lado, sinto-me
confortado pela circunstância de que acredito que eu seja, entre os aqui
presentes, especialmente entre os oradores, aquele que tem a modificação
diferente de todas aquelas que justificaram os pronunciamentos que me
antecederam e que, naturalmente, foram gizar aquele momento singular da vida do
Rio Grande, da vida de Porto Alegre, quando sentimos a nossa auto-estima
elevada ao vermos uma conterrânea nossa, longe da pátria, vestindo um xiripá,
trazer para o Brasil o cetro máximo da beleza internacional.
Quando acompanhei os demais
Vereadores da Casa e escolhi a Cidadã Emérita de Porto Alegre, eu me dirigi
muito mais a uma menina que não havia sido Miss Universo e que já era uma
dinâmica líder estudantil. Sempre acompanhada pelo seu pai, o Varguinhas, e
pela sua mãe, Dona Aida, ia às reuniões da UMESPA, partilhava conosco dos
trabalhos do Grêmio Estudantil e, inclusive, me privilegiava com o voto nas
eleições estudantis.
Quando Porto Alegre parou,
em 1963, quando o bonde não conseguiu andar, quando a Rua da Praia ficou
apinhada de gente, quando gremistas e colorados se misturaram para fazer aquela
festa, eu tinha um privilégio especial: estava sendo homenageada na Cidade -
havia recebido das mãos do Prefeito Loureiro da Silva as chaves de Porto Alegre
- aquela jovem que havia partilhado comigo e com outros companheiros de
adolescência as tarefas, as lides próprias das agremiações estudantis que
envolviam o nosso entusiasmo juvenil da época.
Ver. João Dib, o Prefeito
Loureiro da Silva, que era muito bem assessorado por V. Exa., um grande
admirador desse notável homem público do Rio Grande, não sabia, o velho
Charrua, naquela ocasião, que não era preciso dar a Ieda as chaves de Porto
Alegre, porque o coração dos porto-alegrenses já estava aberto para a nossa
Miss Universo, e que nós todos, com muito orgulho, víamos que o mundo inteiro
havia-se curvado à beleza da mulher do Rio Grande, da mulher gaúcha, essa
beleza que a todos encantou e que a todos se impôs, dado que, diversamente do
que viria a ocorrer no futuro, quando começaram a ser produzidas as misses
universo, nós tínhamos alguém que era espontânea, autêntica, natural, que havia
sido preparada pelos seus pais para ser uma grande mulher, uma grande esposa,
uma grande mãe e integrante da sociedade, e que, na sua espontaneidade, se viu
de uma hora para outra, desde a escolha no Cantegril, à passagem pelo Concurso
de Rainha das Piscinas, Miss Porto Alegre, Miss Rio Grande e Miss Brasil, até o
reconhecimento internacional.
Peço licença aos amigos da
Ieda que hoje estão aqui presentes, a seus familiares e filhos, para dizer que
estou saudando mais do que a Cidadã Emérita de Porto Alegre: eu saúdo a menina,
a adolescente que comigo andou por esta Cidade; saúdo a mulher do meu amigo
José Carlos Athanásio, filho do Dr. Athanásio, lá de São Jerônimo; saúdo aquela
pessoa que por todas as razões quero bem. Ainda que me curve à irreverência de
Vinícius de Moraes, quando disse “as muito feias que nos perdoem, mas beleza é
fundamental”, eu diria que o fundamental na Ieda Maria não é somente a sua
beleza e inteligência. É, sobretudo, essa autenticidade de mulher que se fez
respeitar no mundo inteiro, demonstrando que as coisas espontâneas, pelo menos
em 1963, ainda eram valorizadas.
Muito obrigado, Ieda, pelo
reforço da auto-estima que deste aos porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros,
ao vermos que o Brasil foi representado naquele ano pela mulher bonita que se
trajava com xiripá. Nós nos livramos da baianada. O Brasil não era mais só de
Carmem Miranda. O Brasil passava a ser, a partir daquele momento, o Brasil de
Ieda Maria Vargas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
Com a palavra, a nossa homenageada, Sra. Ieda Maria Vargas Athanásio.
A SRA. IEDA
MARIA VARGAS ATHANÁSIO: Estou nervosa e emocionada, embora tenham se passado 34 anos da emoção
da minha coroação de Miss Universo, que foi uma emoção muito grande e,
principalmente, por ter apenas 18 anos. E hoje estou aqui recebendo um título
que não é qualquer cidadão porto-alegrense que recebe. Estou tendo esta
felicidade por uma iniciativa do Ver. Elói Guimarães, a quem agradeço do fundo
do meu coração.
Quero agradecer a todos os
Vereadores de Porto alegre. É um orgulho muito grande para mim. A emoção,
surpreendentemente, me pegou.
Outro dia, estava ouvindo
uma música gaúcha, de um cantor gaúcho que dizia: “tudo que se planta cresce e
o que mais floresce é o amor”. Quero dizer que nesses longos 34 anos,
realmente, o que mais floresceu foi o amor, o amor de vocês por mim e o meu por
vocês.
Estou muito orgulhosa de ser
Cidadã Emérita de Porto Alegre. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE:
Convido o
Ver. Elói Guimarães a repartir conosco essa honra de entregar o título a Ieda
Maria Vargas Athanásio, Cidadã Emérita.
(É feita a entrega do
título. A Sra. Vani Guimarães faz a entrega de flores à homenageada.)
Antes de convidar a todos
para a execução do Hino Rio-Grandense, gostaria de dizer que senti, nas
palavras dos Vereadores, uma forte emoção e uma representação de tudo o que nós
estávamos pensando. Alguns disseram que eram privilegiados, e eu quero disputar
esse privilégio, porque tenho o privilégio de ser, hoje, o Presidente do
Legislativo de Porto Alegre, de onde foi gerada essa rainha, essa princesa,
essa miss maravilhosa, que é a Ieda Maria.
Em alguns discursos colocaram questões que nos deixaram pensando
que, realmente, tudo o que foi dito foi pouco. Por favor, entendam. Algumas
coisas simbolizam para nós, quando jovens, e eu era um jovem também em 1963 e
tinha vivido uma emoção fantástica por ter ido a um congresso internacional.
Também marcou, naquele ano, a homenagem que recebemos para o Brasil, para o Rio
Grande do Sul e para Porto Alegre de ter o título de Miss Universo. A
autenticidade se manteve. Os momentos felizes, o Ver. João Dib falou, são
sempre felizes quando deles nos lembramos. Não há coisa melhor do que lembrar
do que é bom. A felicidade vem nos momentos em que lembramos disso.
O Adeli disse que a beleza é
a verdade e a verdade é a beleza. Sou arquiteto, e aprendi com Le Corbusier que
uma das mais belas paixões humanas parece ser a busca da harmonia. A busca da
harmonia, em síntese, é a busca do belo. Nós, arquitetos, buscamos o belo,
criamos para isso. O homem, a mulher buscam o belo. Desculpe, Sebenelo, sei que
o lírico não sou eu, mas queria dizer que a Ieda Maria Vargas Athanásio, nova
Cidadã Emérita de nossa Cidade, sintetiza todas essas coisas que foram ditas
com tanto carinho aqui. Ela veio aqui receber o título de Cidadã Emérita de
Porto Alegre, mas numa condição, Ver. Elói, de Cidadã do Mundo, e isso é muito
importante para nós. Porto Alegre, ainda em tempo, saúda este compromisso
contigo e com a tua família. Passamos este momento com muita emoção, mas,
também, com aquela alegria de podermos fazer esta saudação.
Convidamos a todos para
ouvirmos, de pé, o Hino Rio-Grandense.
(É executado o Hino
Rio-Grandense.)
Mais uma vez, agradecemos a
todos os presentes e, mais uma vez, abraçamos esta nova Cidadã Emérita. Damos
por encerrada a Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 20h55min.)
* * * * *